Nos dias 01 e 02 de julho acontece o desfile da Cabocla Dona América em Jaguaripe. O evento faz parte das comemorações do 2 de julho, data magna da Independência da Bahia.
Em Jaguaripe, o tradicional desfile começa dia 01 de julho, a Cabocla Dona América é levada em cortejo pelas ruas da cidade, acompanhada pela fanfarra da Lira Jaguaripense e “dormirá” na rua que recebe o nome da data magna da Independência da Bahia, Rua 2 de julho. No dia 02 de julho, acontece o inverso, a Cabocla retornará ao seu local de origem, desta vez passando por toda a cidade.
O cortejo é acompanhado por diversas pessoas, entre elas moradores, devotos, visitantes e turistas da região que aproveitam o feriado do São João e São Pedro para darem uma “esticada” e conhecerem esta tradição.
A CABOCLA
“A Cabocla é a representação de Catarina Paraguaçu, uma índia tupinambá que acolheu e casou-se com o português Diogo Álvares Correia, o Caramuru, e que representa a formação do Brasil, agregando, através do parentesco, brasileiros e portugueses.”
Na Bahia, se algo vai mal, o conselho que se dá, quando parece não haver outra solução, é “chorar no pé do caboclo”.
Tal expressão de uso corrente no jargão popular baiano é uma referência às preces, pedidos e promessas que são feitos na base do monumento do Campo Grande ou deixados na forma de cartas e bilhetes aos pés das imagens do caboclo e da cabocla nos carros emblemáticos do desfile do 2 de julho nos municípios baianos.
Na data em que se comemora a independência da Bahia, é para eles que os tambores tocam nos terreiros de candomblé. Nas tradições religiosas afro-brasileiras, os caboclos são reverenciados como seres encantados, afinal, já estavam aqui, eram os donos da terra, quando os africanos chegaram ao Brasil trazendo consigo os seus orixás.
A figura do caboclo, que ainda hoje é o núcleo do cortejo cívico do 2 de julho, teria surgido como um símbolo das lutas de 1822-23, desde o momento em que as tropas brasileiras, após vencerem os portugueses na batalha de Pirajá, adentraram em Salvador.
De acordo com a historiadora Wlamyra Albuquerque, o que se conta é que o contingente de 9.515 homens, ao chegar na cidade, pela Estrada da Liberdade, apropriou-se de uma carroça que havia sido abandonada pelos lusitanos. Além de a enfeitarem com folhas verdes e amarelas, os combatentes vitoriosos colocaram sobre ela a figura de um índio.
Esta seria, portanto, a origem da festa da independência, cujo desfile inicia-se no bairro da Liberdade, que foi o lugar de chegada dos exércitos libertadores.
No ano de 1826, o caboclo ganhou uma representação mais condizente com o movimento nativista do começo do século XIX, cuja principal referência de nacionalidade era imagem do índio valente e guerreiro, que foi retratada nos romances de José de Alencar.
No lugar do velho índio da primeira carroça, foi colocada uma escultura de madeira. O novo caboclo, ornado de penas, ganhou um porte altivo e atlético. Com uma das mãos, ele aponta uma lança para uma serpente, representando a tirania portuguesa, e, com a outra, segura a bandeira nacional.
Em 1840, em função dos conflitos entre a população local e os portugueses que permaneceram na Bahia, os quais passaram a ser alvos de protestos e ataques durante as comemorações do 2 de julho nos anos seguintes à independência, cogitou-se substituir a imagem do caboclo pela figura feminina da cabocla, uma vez que este passou a ser visto como um elemento incitador da hostilidade, sobretudo, contra os comerciantes lusitanos.
No entanto, devido à força simbólica do caboclo, aquela que foi criada para ser sua substituta acabou sendo incorporada como sua companheira no desfile. A cabocla do 2 de julho representa a lendária Catarina Paraguaçu, a índia pela qual o náufrago português Diogo Álvares Correia, apelidado de Caramuru, teria se apaixonado.
Em Jaguaripe, a Cabocla Dona América fica exposta no Paço Municipal, sede da Administração Pública Jaguaripense. Ela só sai de lá no dia 01 de julho, quando é conduzida para a Praça da Bandeira e ornamentada para os desfiles.
Armado de arco e flecha, o caboclo mira uma serpente, que esmaga com seus pés. Além da alusão ao golpe desferido no poder da metrópole, o majestoso monumento de 25,86m de altura apresenta um série de representações das batalhas campais e dos nomes dos heróis que participaram das lutas de emancipação.
Fonte: Tribuna da Bahia